quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Dos treze



Ontem e hoje ouvi Legião. Sim, Legião.

Eu era obcecada por eles aos doze, treze anos.
Talvez por ser do Grupo de Jovens da Igreja naquela época. Explicando: lá era um lugar que a minha mãe - apesar de achar muito exquisito o meu catolicismo repentino e fervoroso - me deixava ir, era do lado da minha casa; e, o mais importante: tinha muitos garotos. E esses garotos, mais velhos que eu, mas não menos adolescentes, chegavam munidos de violão e cantavam... vamos ver se alguém adivinha... Legião! Além de Paralamas e outras coisas do gênero, claro. E a namoradeira aqui, tratou de se munir de todos os cds possíveis e imagináveis de Legião. Eu tinha treze e tinha que ter referência, bagagem, para namorar os mais velhos; claro que eu não tinha essa clareza de objetivo, mas o objetivo era esse afinal.
Só que me apaixonei por eles, talvez mais que por qualquer garoto-de-violão-em-punho-tocando-Legião. Quando o Renato Russo morreu, passei a noite chorando. Achei que só ele me entendia, entendia o que eu sentia. Veja só a prepotência da garota...

Depois de muito Chico, Tom Jobim, Billy; muitos namorados, colégio militar, faculdade de teatro, blá, blá, blá é claro que Legião passou a ser algo bem naifi dos anos oitenta etc e tal. E continua sendo, evidentemente. Principalmente porque me lembra meus namoradinhos dessa época da igreja, quanta missa tive que suportar por eles e seus malditos violões!
E eis que meu amigo coloca para rolar ontem. Fiquei nostálgica e decidi ouvir direito hoje, ouvi as letras do meu começo de vida adulta, que eu cantava a plenos pulmões e colocava de citações nos meus diários. Fiquei impressionada com algumas letras e, de como algumas coisas só entendemos depois.

Tipo isso:

"Parece cocaína mas é só tristeza, talvez tua cidade
Muitos temores nascem do cansaço e da solidão
E o descompasso e o desperdício herdeiros são
Agora da virtude que perdemos.
Há tempos tive um sonho
Não me lembro, não me lembro
Tua tristeza é tão exata
E hoje o dia é tão bonito
Já estamos acostumados
A não termos mais nem isso.
Os sonhos vêm
E os sonhos vão
O resto é imperfeito.
Disseste que se tua voz tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira."


É bem naifi, meio melo, mas eles são demais.

Calma garotinhas, um dia vocês vão entender de verdade as dores que eles estão cantando.


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Seguindo essa linha, em mais uma noite de insônia, ontem revi um filme que havia gostado na época, mas que ontem me pegou de um jeito... Adaptação, com roteiro do incrível Charlie Kaufman e de Donald Kaufman, dirigido pelo Spike Jonze e estrelado pelo Nicolas Cage. Fiquei tão tocada que só dormi muito tempo depois dos passarinhos e do entregador de jornal. Tinha tanta coisa para comentar, mas só me lembro de uma frase agora:

"Somos quem amamos, não quem nos ama". O irmão gêmeo descolado e burro fala para o Kaufmann, dizendo que não é desatento, que percebe as coisas; mas que simplesmente não se importa com o que as pessoas pensam. O importante é o que ele sente, e o amor que ele sente, mesmo que não seja correspondido é dele e só dele. E isso faz ele ser o que ele é.

Preciso rever esse filme, preciso tê-lo aqui na minha estante, junto com o Almodóvar.

E viva às releituras de livros, filmes e músicas!!!! A gente muda e as coisas mudam em relação à gente (ai... Fiquei meio influenciada pelo Renatão).







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