Ontem eu vi a Selma. Antes vi a Carla, e tudo na minha casa regado à vinho. Acordei com o joelho ralado do tombo, que lembrei ao me acordar, cai na rua com a cabeça cheia de vinho e com a Selma me resgatando. Penso: como eu amo a Selma, e Carla e a Maíra também, sem dúvida.
sábado, 3 de julho de 2010
Piegas (adouuuuroooo)
Ontem eu vi a Selma. Antes vi a Carla, e tudo na minha casa regado à vinho. Acordei com o joelho ralado do tombo, que lembrei ao me acordar, cai na rua com a cabeça cheia de vinho e com a Selma me resgatando. Penso: como eu amo a Selma, e Carla e a Maíra também, sem dúvida.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Zero Grau de Libra (Caio Fernando Abreu)
Sobre todos aqueles que continuam tentando,
Deus, derrama teu Sol
mais luminoso.
Caio Fernando Abreu
O Sol entrou ontem em Libra. E porque tudo é ritual, porque fé, quando não se tem, se inventa, porque Libra é a regência máxima de Vênus, o afeto, porque Libra é o outro (quando se olha e se vê o outro, e de alguma forma tenta-se entrar em alguma espécie de harmonia com ele), e principalmente porque Deus, se é que existe, anda destraído demais, resolvi chamar a atenção dele para algumas coisas. Não que isso possa acordá-lo de seu imenso sono divino, enfastiado de humanos, mas para exercitar o ritual e a fé – e para pedir, mesmo em vão, porque pedir não só é bom, mas às vezes é o que se pode fazer quando tudo vai mal.
Nesse zero grau de Libra, queria pedir a isso que chamamos de Deus um olho bom sobre o planeta terra, e especialmente sobre a cidade de São Paulo. Um olho quente sobre aquele mendigo gelado que acabei de ver sob a marquise do cine Majestic; um olho generoso para a noiva radiosa mais acima. Eu queria o olho bom de Deus derramado sobre as loiras oxigenadas, falsíssimas, o olho cúmplice de Deus sobre as jóias douradas, as cores vibrantes. O olho piedoso de Deus para esses casais que, aos fins de semana, comem pizza com fanta e guaraná pelos restaurantes, e mal se olham enquanto falam coisas como: “você acha que eu devia ter dado o telefone da Catarina à Eliete? – e outro grunhe em resposta.
Deus, põe teu olho amoroso sobre todos que já tiveram um amor, e de alguma forma insana esperam a volta dele: que os telefones toquem, que as cartas finalmente cheguem. Derrama teu olho amável sobre as criancinhas demônias criadas em edifícios, brincando aos berros em playgrounds de cimento. Ilumina o cotidiano dos funcionários públicos ou daqueles que, como funcionários públicos, cruzam-se em corredores sem ao menos se verem – nesses lugares onde um outro ser humano vai-se tornando aos poucos tão humano quanto uma mesa.
Passeia teu olhar fatigado pela cidade suja, Deus, e pousa devagar tua mão na cabeça daquele que, na noite, liga para o CVV. Olha bem o rapaz que, absolutamente só, dez vezes repete Moon Over Bourbon Street, na voz de Sting, e chora. Coloca um spot bem brilhante no caminho das garotas performáticas que para pagar o aluguel dão duro como garçonetes pelos bares. Olha também pela multidão sob a marquise do Mappin, enquanto cai a chuva de granizo, pelo motorista de taxi que confessa não Ter mais esperança alguma. Cuida do pintor que queria pintar, mas gasta seu talento pelas redações, pelas agências publicitárias, e joga tua luz no caminho dos escritores que precisam vender barato seu texto- olha por todos aqueles que queria ser outra coisa qualquer a que não a que são, e viver outra vida se não a que vivem.
Não esquece do rapaz viajando de ônibus com seus teclados para fazer show na Capital, deita teu perdão sobre os grupos de terapia e suas elaborações da vida, sobre as moças desempregadas em seus pequenos apartamentos na Bela Vista, sobre os homossexuais tontos de amor não dado, sobre as prostitutas seminuas, sobre os travestis da República do Líbano, sobre os porteiros de prédios comendo sua comida fria nas ruas dos Jardins. Sobre o descaramento, a sede e a humildade, sobre todos que de alguma forma não deram certo (porque, nesse esquema, é sujo dar certo), sobre todos que continuam tentando por razão nenhuma – sobre esse que sobrevivem a cada dia ao naufrágio de uma por uma das ilusões.
Sobre as antas poderosas, ávidas de matar o sonho alheio – Não. Derrama sobre elas teu olhar mais impiedoso, Deus, e afia tua espada. Que no zero grau de Libra, a balança pese exata na medida do aço frio da espada da justiça. Mas para nós, que nos esforçamos tanto e sangramos todo dia sem desistir, envia teu Sol mais luminoso, esse zero grau de Libra. Sorri, abençoa nossa amorosa miséria atarantada.
Caio Fernando Abreu, n’O Estado de S. Paulo, 24/09/86.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Um dos cinco melhores elogios que já ganhei
Seleções de diários
"Chego em casa e vou fumar na sacada, a cidade dormindo, chuva e eu feliz.Antes de dormir penso na minha vó e chego a rezar. Mais porque ela reza, do que por acreditar.
Penso que para cada coisa boa, acontece umas três ruins.
E que a vida é assim mesmo."
"Coisa boa final de semana, posso ficar ociosa tomando litros de café de pijama o dia inteiro, que não sinto remorso. Me sinto uma pessoa normal, que descansa da semana dura que teve."
"- Mas não fecha às 19h? Tenho certeza de já ter vindo aqui nesse horário.
- Não, é só na sexta. Dia de semana fecha às 18h.
- Mas por favor, eu preciso muito! A senhora é mulher, já deve ter tido uma emergência também! É só a virilha... Não tem ninguém aí que ainda possa me depilar?
- Tem não senhora, eu já to fechando aqui.
- Mas você não poderia fazer essa bondade?
- Não senhora, sou só recepcionista.
- Mas a senhora sendo recepcionista de uma casa de depilação deve ter noções ótimas de depilação, eu pago o que for preciso! Eu passo e a senhora puxa, o meu problema é puxar mesmo, não tenho coragem... O que a senhora acha?
(Silêncio, não está acreditando na proposta)
- Bem.. (raivosa) Obrigada de qualquer forma, até mais.
- De nada (riso engolido, misto de pena e descaso)"
domingo, 27 de setembro de 2009
A dor que eu sinto não é nada insuportável, nada arrebatador
Nada que me sufoque, que me faça faltar o ar
Ela é sim insuportavelmente suportável e crônica
Algo como alguém que sempre está ali
E não importa o quanto eu fume, beba, ria
Não importa o quanto eu a esqueça e a supere
Ela me olha e me suspira
Me endurece
Me transforma num prédio da paulista
E aos poucos me faz ver poesia nas coisas feias
Nas veias saltadas, na assimetria.