quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Seleções de diários

Num processo de escrever uma peça, que ainda existe (o processo), minha companheira Maíra propôs que escrevesse um diário da minha vida durante um mês. Faz tempo já, mas tem alguns trechos bem peculiares que decidi publicar. Antes que perguntem: não. Eu não estava nada bem. Mas nessas fases eu fico com um sarcasmo que me agrada.

"Estou gorda. Me olhei num reflexo de um prédio envidraçado, como todos os da Berrini, e senti que a minha cara está caindo, que o meu cabelo continua lindo, agora cada vez mais comprido; mas que as minha bochechas estão caindo VERTIGINOSAMENTE. Voltei pra casa no meio de uma tarde cinza, comi a comidinha da Flor e dormi vendo o filme “A Morte lhe Cai Bem”, tive pesadelos com o minhocão e com perseguições envolvendo assassinato, talvez o meu próprio. "

"Procuro não olhar muito pra ele, sei lá parece que eu tenho vergonha de repente, ver um poro na pele, ou algo íntimo, sei lá. Prefiro olhar pra ele somente no carro e de longe no supermercado. Não sabemos escolher nem o vinho, nem o queijo, nem o chocolate, ficamos perguntando o que o outro gosta e ninguém fala com decisão. Eu acabo escolhendo tudo para acabar logo com aquilo, com aquela luz branca de hipermercado, que fazia eu me sentir nua, feia, tinha a impressão que ele ia descobrir que eu não passava de uma fraude. Mas felizmente ele não possuia toda essa perspicácia, acho, quer dizer, espero."

"Chego em casa e vou fumar na sacada, a cidade dormindo, chuva e eu feliz.Antes de dormir penso na minha vó e chego a rezar. Mais porque ela reza, do que por acreditar.

Penso que para cada coisa boa, acontece umas três ruins.

E que a vida é assim mesmo."


"Coisa boa final de semana, posso ficar ociosa tomando litros de café de pijama o dia inteiro, que não sinto remorso. Me sinto uma pessoa normal, que descansa da semana dura que teve."


"- Mas não fecha às 19h? Tenho certeza de já ter vindo aqui nesse horário.

- Não, é só na sexta. Dia de semana fecha às 18h.

- Mas por favor, eu preciso muito! A senhora é mulher, já deve ter tido uma emergência também! É só a virilha... Não tem ninguém aí que ainda possa me depilar?

- Tem não senhora, eu já to fechando aqui.

- Mas você não poderia fazer essa bondade?

- Não senhora, sou só recepcionista.

- Mas a senhora sendo recepcionista de uma casa de depilação deve ter noções ótimas de depilação, eu pago o que for preciso! Eu passo e a senhora puxa, o meu problema é puxar mesmo, não tenho coragem... O que a senhora acha?

(Silêncio, não está acreditando na proposta)

- Bem.. (raivosa) Obrigada de qualquer forma, até mais.

- De nada (riso engolido, misto de pena e descaso)"


Um comentário:

Gabriela disse...

Fedorenta!
Adooorei o blog, confesso que me vi em algumas das situacoes, quem sabe de pijama na frente do espelho e ligando pra uma depiladora.... ai como eh bom ter voce, e seu humor sarcastico, por perto... que saudade!!!
Te amo mana!